quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O Tempo

O tempo, esse inimigo
Da paciência, me veio
Outro dia, ao pé do ouvido,
Contar coisas que eu não sabia

Me contou historias
Dos homens e suas manias
De como passava rápido as noites
E como gostava de demorar os dias

Soprou-me um pouco de vida
Dizendo que eu ia precisar
Me mandou quebrar o relógio
E parar de me preocupar

Me explicou sua relatividade
E porque isso nos foge a compreensão
Se desculpou pelas mortes e
Pelas saudades pediu perdão

Foi embora e eu
Nem sequer percebi
Enquanto o tempo ficou
O quanto eu envelheci.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

O Mundo Não Sabe

O mundo não sabe
Nada do mundo
Da dor do profundo,
Da ilusão que lhe cabe

No mundo não vale
O pranto nem o riso
Nem mesmo o amor
Conciso, não vale

E antes que o mundo acabe
Ressurgirei do profundo
Das memórias de um mundo
Que morreu e nem sabe

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Acho Tão Estranho

Acho tão estranho
Te olhar nos olhos
E enxergar o que queria
Há algum tempo atrás

Me desacostumei
A querer um amor
Todo tempo que passou
Me fez achar que tanto faz

Não ligo mais
A vida me endureceu
A vontade passou, morreu
Meu barco se atracou ao cais.

Espero

Espero
Ausente
Reflito
Bocejo

Escrevo
Apago
Disfarço
Não vejo

Percebo
É tarde
Apresso
Meu passo

Não faço
Não penso
Não temo
Cansaço

Como é
Que podia
Na noite
Ou de dia

Viver
Não vivia
Sonhar
Não sonhava

E quando
Acordava
Era eu
E morria

sábado, 30 de outubro de 2010

Outra Vez

Outra vez
O coração despedaçado
Meu peito sofrendo calado
Toda essa insensatez

Toda vida
Revirando essa revolta
Abro a janela e fecho a porta
Pra não ver você passar

Nossa historia
Se acabou no esquecimento
Minha cantiga voou com o vento
Não sei mais oque cantar

Não tenho pressa
A esperança foi embora
Estou sozinho e por agora
É assim que vou ficar

domingo, 17 de outubro de 2010

Memórias De Infância

Sinto falta
Daquele regato
Do cheiro do mato
Da lenha e fogão

Sinto falta
Da simplicidade
Daquela vontade
Daquela paixão

Das aves cantando
Do vento levando
A poeira, as folhas
E minha imaginação

Sinto falta
Da fruta no pé
Do sonho e da fé
Na minha oração

Sinto falta
Da paz que sentia
Quando a chuva caia
No pé de limão

Sinto falta
E só resta a lembrança
Da minha infância
Em meu coração

(não gosto de rimas em ÃO, mas ele saiu assim...paciência...)

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Vivo Pensando

Vivo pensando parado
Esperando calado
Pelo que nem eu sei

Vivo falando sozinho
Na mão levo o espinho
Da rosa que despetalei

Entre sonhos e verdades
Meu pensamento organiza
Uma armadilha a cada esquina

Mas a cada suspiro que dou
Meu coração que já amou
Hoje se nega a sua sina

Aquela Moça

(Dedicado a moça linda que encontrei no metrô, a qual não tive coragem de conhecer)

Pensei
Em perguntar seu nome
Deixei
Pra lá o seu telefone
Outra vez
Quem sabe eu te encontre
Num proximo mês
Num proximo ano

Talvez
A gente se veja denovo
O acaso pedindo socorro
Na porta do trem
Metrô Madalena
Pra nunca mais

Eu morava no Brás
Ela em Saquarema

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Zé Ninguém

Corre, apressa,
Aperta o passo
Em seu cansaço
A dor se cessa

Não tem memória
Não lembra aonde
O sonho esconde
A sua historia

Já foi melhor
Já teve nome
Hoje tem fome,
Cansaço e dor

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Perdido

Vi seus olhos
Brilharem na floresta
E para lá corri

Levei bússola e um mapa
Mas foi tudo inútil
Nunca mais me achei

Ósculos e Amplexos

No sabor de teus ósculos
No calor de teus amplexos
Me vi sempre perdido
me vi sempre submerso

Tentei fugir
Tracei planos complexos
Fiz tudo o que pude
Sem resultado, sem sucesso

Por isso estou assim
E ajoelhado eu te peço
Afaste-se de mim
Com teus ósculos e amplexos

Não queria assim
Não devia ser assim
Paixões são passageiras
Não passam de ilusões

A você me rendi
Como um peixe fui fisgado
Mas você tinha que ter lançado
Teus ósculos, amplexos e arpões

domingo, 25 de julho de 2010

A Dor Me Fez Poeta

A dor me fez poeta
Porque se dói escrevo
Se escrevo passa
E se passa esqueço

Tudo que escrevo
Do fim ao começo
E o Meio, em verso
E prosa, da dor esqueço

E se a dor some,
A alegria talvez
Que dure um mês

Já muda de nome
Se desgasta, descolore
E vira dor outra vez

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Escolha

Voa folha,
O vento leva longe
E com ela o pensamento

Sigo sempre a sonhar
Um sonho em pó
Também levado pelo vento

Voam lembranças
Minhas canções
Voam amores, paixões e dores
Voam ilusões

Você surgiu agora
E pode escolher se quer ficar
Ou pode ser folha de amor
Pó de lembrança e dor
E com o vento também voar.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Caminho Sempre Só

Caminho sempre só
Sempre sem direção
Sem destino algum
Sem nenhuma razão

Vou caminhando apenas
Tentando esquecer
Os mesmos problemas
Que eu finjo não ter

Ponho a culpa no destino
Para me aliviar as costas
Desse peso tão imenso

Que as vezes até penso
Que vinha acumulando
Desde meus tempos de menino

sábado, 12 de junho de 2010

Em Santos

Parecia
Em cada esquina
Que eu iria
Te encontrar

Em cada canto
Uma saudade
E uma vontade
De ficar

Só pra ver
Se te achava
N´alguma nuvem
A passar

Mas percebi
Que estou sozinho
Em meu caminho
Em meu vagar

Pela praia
Que inda guarda
Tua pegada
Teu olhar

Grito
Te chamando
Num delirio
Me responde o mar

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Só um desabafo...

Hoje senti denovo
Aquele vazio que não passa
Ando vagando e indagando a vida
Ando rindo sem achar graça

Mas meu vazio tem
O seu sentido proprio de ser
Contra minha obsoleta vontade
De ficar bem, de esquecer

Corre a vida e nem vejo
Sequer um desejo meu
Se concretizando como eu quis

Me entristeço e me lembro
De você, meu pai, que tudo fez
Pra que eu sempre fosse feliz

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Augusto dos Anjos

Contrastes

A antítese do novo e do obsoleto,
O amor e paz, o odio e a carnificina,
O que o homem ama e o que o homem abomina
Tudo convém para o homem ser completo

O ângulo obtuso, pois, e o ângulo reto,
Uma feição humana e outra divina
São como a eximenina e a endimenina
Que servem ambas para o mesmo feto!

Eu sei tudo isto mais do que o Eclesiastes
Por justaposição destes contrastes,
Junta-se um hemisfério a outro hemisfério

Às alegrias juntam-se às tristezas,
E o carpinteiro que fabrica as mesas
Faz também os caixões do cemiterio

Augusto dos Anjos

Para Alberto Caeiro

Tenho pensado muito
No sentido das coisas
Pois há muita coisa que
Pra mim perdeu o sentido

Tenho usado olhos, nariz,
Boca e ouvidos para sentir
Que pouca coisa me ecoa, me apetece,
Me cheira bem e me agrada

Tenho pensado aflito
No tudo e no nada
E a metafisica não explica
Nem metade do que sou

Sei que existo, quando não duvido
Mas duvidar já me prova
A existência de algum modo
E porque existo é que penso

Noticia

Cheguei até a pensar
Que ia ser comigo
Não achei que um dia
Sequer seria seu amigo

A vida passa e eu
Me sinto as vezes um velho
Tão chato, tão serio
Que ninguém me aturaría

E tive noticias tuas
Que confesso, não esperava
Ficar triste e confuso
Não por esperança nem nada

Só entristeci e isso basta
Aquela noticia que alí me desagradava
Mostrou minha decepção de estar
Mais velho do que eu imaginava

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Deixei o Tempo

Deixei o tempo
Fazer de mim um velho
Com dores no joelho
Sem vontade de correr

Entrevado, pensativo,
Me distancio de mim mesmo
Fuga inutil, volto pior
Ao velho ponto de partida

Rio da vida, e ela
Me ri devolta como quem
Retruca uma resposta

Há de vir, um dia
A morte me levar a dor
Dessa ferida pelo tempo exposta

terça-feira, 6 de abril de 2010

Levo em Meu Peito

Levo em meu peito
Amores findados
Dores de minhas perdas
Saudades de minha infância

Levo em meu peito
Um nó de minha idade
Intrincado e imaturo
Gritando por responsabilidade

Poderia aliviar meu peito
Talvez me suicidando
Mas isso também seria
Imaturo demais

Vão passar os anos
E vou colecionar amores,
Perdas, saudades,
Imaturidades e desenganos
Mudanças

O gosto amargo da cerveja
Minha tão antiga companhia
Desce me pela garganta
Agora com sabor diferente

Ah, tudo mudou tanto
Aquele encanto que outrora via
Em muita coisa, sumiu
Feito poeira de estrada deserta

Eu, agora desfeito
Frente a brusca mudança
O Espelho virou meu inimigo

A cerveja, outrora minha companhia
Infalível nos dias de solidão
causa tristes lembranças, talvez por castigo

quinta-feira, 25 de março de 2010

Pai

Quanta tristeza senti
Em sua súbita partida
Quanta falta me faz
Seus conselhos, sua alegria

Trago hoje em mim
Uma maturidade forçada
Inda um pouco de tristeza
E uma saudade infinda.

terça-feira, 16 de março de 2010

Adeus.

Como é triste a partida de um ente querido, ainda mais quando se vai derrepente...
Papai jogava futebol quando parou para descansar e seu coração parou.
Dói demais no peito, principalmente ao ver a mãe, outrora tão guerreira, se acabando em tristeza e depressão.
Não consigo me conformar por enquanto, mas acho que compreendi melhor umas coisas da vida.
A gente se estressa por coisas tão bobas e infimas do dia a dia e só quando acontece algo do genero é que a gente se lembra do quanto nossas rasões são estupidas na maioria das vezes...com quantas coisas futeis nos preocupamos.

Adeus, papai...vou pra sempre me recordar de todos os teus ensinamentos...olha por mim sempre.

terça-feira, 9 de março de 2010

Onda Aflita

Leva...
Traz...
Leva...
Traz...
Parece até
Que brinca
Sadicamente
Com a gente
A vida que
Não nos deixa
Ter paz
Numa eterna
Onda aflita de
Leva...
Traz...
Leva...
Traz...

sexta-feira, 5 de março de 2010

Bom Dia Tristeza (Adoniran Barbosa e Vinicius de Moraes)

Bom dia tristeza
Que tarde tristeza
Você veio hoje me ver
Já estava ficando
Até meio triste
De estar tanto tempo
Longe de você

Se chegue tristeza
Se sente comigo
Aqui nesta mesa de bar
Beba do meu copo
De-me o seu ombro
Que é para eu chorar
Chorar de tristeza
Tristeza de amar.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Insonia

Grande coisa...Sei que você já vai embora.
Quer tomar um chá??
Você tem me visitado com mais frequencia por esses dias e por causa de você eu tenho produzido mais.
Deixo a quem por acaso leia, um soneto que escrevi a alguns anos atrás.


Bem-Te-Ví

Bem te ví e mais ninguém
Bater asas e sumir
Cortar as nuvens e cair
Na imensidão do azul do céu

Bem te ví indo além
Pra bem mais longe então de mim
Voando só, voando assim
Voando baixo por demais

Tirou rasante do meu coração
Eu tive medo de me sentir só
Quase que perco de vez a razão

Minha cabeça voou com você
Eu bem te via querendo voltar
Mas seu destino dizia que não

terça-feira, 2 de março de 2010

A Mão do Vento

Sinto o vento noturno
Acariciar me o rosto
Feito mão de mãe
Que consola seu filho

Como se num ato de amor
Puro e santificado
Pudesse a mãe natureza
Compadecer se de minha humana tristeza

Bruno Vieira

segunda-feira, 1 de março de 2010

Deixo mais uma poesia que escrevi com saudades da minha infancia...tempos de despreocupação.

Ao Meu Eu Menino

Puxei pela memória
E vi um tempo
No triste intuito
De me esquecer de hoje

Eu brincava,
Me divertia.
Eu me esquecia,
E me lembrava

Somente o eu
Que ali estava
Era quem de mim
Sabia, e nem desconfiava

Que eu cresceria
Em desencantos
E daquele eu
Em prantos me esqueceria.

Bruno Vieira

Devagar e Sempre

Estou aprendendo devagar a ter um Blog, assim como aprendo devagar a estar sozinho, e tantas outras coisas que esse meu período de vida tem me trazido de novidade.
Como dizem que tudo tem o lado positivo, espero pelas minhas melhoras(sei que só eu sou responsável por isso).
Nesse mundo somos todos sozinhos, a partir do momento em que nascemos(talvez seja por isso que choramos) e isso ainda esta entrando na minha cabeça...devagar e sempre.
Posto um texto meu que escrevi olhando um menino de rua e pensando com a cabeça de quem foi assaltado três vezes em um ano.

Cria de Rua

Passa por meus olhos
O seu vulto molambo
Senta-se na via suja
Pedindo esmola, sentindo fome e frio

Passa por tantos olhos
E ninguém nota sua presença
Mas ele esta lá, e mais do que todos
Consciente e não alienado

O mundo anda alienado
E passando por ele
Que vê mais do que todos
Lho faz sorrir

Ele entende a crueldade
Da não atenção recebida
Da comida que lhe foi negada
E então ele chora

Em meio a seu pranto
Vê muita gente também
Chorando as injustiças da vida
E então se revolta

Ele rouba, vandaliza
Vira o mundo, cheira cola
E num assalto a mão armada
Ele é pego e preso

Quando sai um belo dia
Seus olhos já não são mais os mesmos
E a criança da lugar ao bandido
Que seria assassinado três meses depois.

Bruno Vieira

domingo, 21 de fevereiro de 2010

VIDA

Corre o homem
Contra o tempo
Corre o tempo
Contra a gente
Corre a gente
Pela vida
Corre a vida
Contra o homem

Todo homem
Quer a vida
Toda vida
Quer futuro
Colho os frutos
Da minha vida
Vida corre
Contra mim

Bruno Vieira
Ola, caro visitante.
Crio este Blog na tentativa de extinguir alguns sentimentos que tem me abatido nesses últimos dias.
Postarei aqui algumas poesias de pessoas que admiro e algumas que eu escrevo.
Começarei com um pequeno Drummond.


A INGAIA CIÊNCIA

A madureza, essa terrível prenda
que alguém nos dá, raptando-nos, com ela,
todo sabor gratuito de oferenda
sob a glacialidade de uma estela,

a madureza vê, posto que a venda
interrompa a surpresa da janela
o círculo vazio, onde se estenda,
e que o mundo converte numa cela.

A madureza sabe o preço exato
dos amores, dos ócios, dos quebrantos,
e nada pode contra sua ciência

e nem contra sí mesma.O agudo olfato,
o agudo olhar, a mão, livre de encantos.
se destroem no sonho da existência.

Carlos Drummond de Andrade